A Umbanda é uma corrente baseada
principalmente na caridade, simplicidade e humildade. Corrente esta que está
fixada no astral há milênios. Esta corrente encontra na Brasil terreno fértil
para sua retomada. Pois, neste país houve uma grande mistura de raças
(Amerindios, Africanos, Europeus e Asiáticos) e credos, tornado-o centro de
convergência e tolerâcia, podendo também os simples e puros de coração dar sua
contribuição para o engrandecimento deste grande País.
Muitos tentam dar a Umbanda um sentido
filo-religioso falso, tentando colocar os pretos-velhos dentro de confrarias,
colocando os caboclos como seres superiores e detentores de poderes especiais,
e o fazem para tentar tirar a principal característica deste grande movimento
que é a simplicidade.
Há ainda, os que confundem Umbanda
com Candomblé. Nos dias atuais vemos inclusive muitos terreiros ditos de Umbanda,
mas que em verdade são misturas de cultos africanos com a própria.( Em outra
oportunidade poderemos definir um pouco outras doutrinas.).
Os trabalhadores desta grande
corrente de Umbanda são espíritos como todos nós, que se revestem da roupagem
de preto-velhos, caboclos e crianças para poderem atuar e chegar até nós da
melhor maneira possível.
- Início da Umbanda no Brasil
Leal de Souza, poeta, jornalista e
escritor, foi o primeiro umbandista que enfrentou a crítica mordaz, ostensiva e
pública, em defesa da Umbanda
do Brasil ou seja, daquele movimento inicial
preparado pelo Caboclo
Curuguçu e assumido pelo Caboclo das Sete Eucruzilhadas,
inegavelmente o primeiro marco oficial de surgimento da Umbanda, aqui em
Niterói - São Gonçalo.
Ele o fez numa época em que era
quase um crime de heresia falar de tal assunto (por volta de 1925), porque para
os fanáticos religiosos e espíritos sectaristas, tudo era apenas macumba*.
*O termo Macumba é utilizado primeiramente como
designação genérica dada a vários cultos sincréticos afro-brasileiros, em geral
fortemente influenciados por religiões como Candomblé,
Catolicismo,
Espiritismo,
por cultos ameríndios, e outras crenças. Outra acepção do termo, não
tão conhecida, é a de um antigo instrumento musical de percussão, uma
espécie de reco-reco,
de origem africana.
Foi também o precursor de um
ensaio de codificação, ou melhor, foi o primeiro que tentou definir, em
diversos artigos, o que era a Umbanda ou o que viria a ser no futuro esse outro
lado que já denominava de linha Branca de Umbanda.
Leal de Souza, muito antes mesmo
de 1925, já dava entrevistas a jornais e a revistas, tentando explicar, razões
e finalidade de sua “linha de Umbanda Branca”. Ele registrava - sem talvez
prever o valor que teria para a posteridade e para a História dessa Umbanda, o
nome da Entidade
Espiritual precursora e mentora desse Movimento de Restauração ou de
Renovação que foi se transformando e se
consolidando nesse gigante, que é a Umbanda da atualidade.
Essa Entidade do Astral que Leal
de Souza identificou, dava o nome de Caboclo CURUGUÇU (ou Curugussu na grafia alterada) e que nós afirmamos
significar, no Nhengatu, o Grito do Guardião. Segundo Leal de Souza o Caboclo Curuguçu foi
quem trabalhou preparando o advento da Entidade que veio a se identificar como
o Caboclo das Sete
Encruzilhadas através do médium. Zélio de Moraes.
Não podemos duvidar, desse
registro, pois o valor, a dignidade e a sinceridade de sua fé umbandista foram
postos a prova, não ontem e nem hoje; foi em 1925, época duríssima, de
perseguições e preconceitos acintosos contra os centros e terreiros, pois se
ainda nesta época, do goveno Getulio Vargas nos assistimos a perseguições,
prisões e fecha-fecha de centros e terreiros até de forma violenta (todos os
velhos Umbandistas devem se lembrar disto).
Leal de Souza jamais poderia ter
inventado o Caboclo
Curuguçu e muito menos falseado a verdade dos fatos, de vez
que, principalmente, era um fervoroso do Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Ele só não se lembrou de deixar os detalhes por escrito, de como, por onde e
através de quem esse Caboclo
Curuguçu trabalhou preparando a descida do Sete Encruzilhadas..,
Antes dele ninguém havia dito nada
sobre linha Branca
de Umbanda etc. etc. etc.... Todavia, existem certos
setores umbandistas que pretendem dar particularidades especiais na história ou
nas origens da Umbanda do Brasil, doutrinando que: — quem levantou o termo
Umbanda pela primeira vez e “codificou” a dita Umbanda foi o Caboclo das Sete
Encruzilhadas.
Sem pretendermos desmerecer o
brilho do maravilhoso trabalho dessa Entidade, pois um dos principais
Vanguardeiros incumbido de lançar as sementes e as primeiras diretrizes do que
viria a ser Umbanda de fato e de direito, não achamos justo esquecer aqueles
outros humildes e semi-anônimos pioneiros, que tembém contribuíram, alhures,
sem registro, para firmar as raízes dessa mesma Umbanda.
Mas, pelas linhas do direito,
vamos contar como se deu o advento do Caboclo Sete Encruzilhadas versus
Zélio de Moraes.
“Zelio Fernandino de Moraes,
nascido no ano de 1891 (falecido em 4 de Outubro de 1975), era fluminense e
morava no Bairro das Neves, em Niterói na rua Floriano Peixoto nº 30, junto com
sua família, quando foi escolhido pelo astral superior para servir de veiculo
(médium) a uma certa Entidade Espiritual, que iria usá-lo durante muito tempo,
dentro de determinada Missão. Esse médium foi muito bem selecionado para tal
finalidade, de vez que, durante todos os anos que exerceu a sua mediunidade,
foi de conduta exemplar.
Zélio de Moraes tinha apenas 17
anos de idade, quando começou a padecer de um estranho mal-estar físico e
psíquico sem que os médicos da época pudessem defini-lo e curá-lo. A coisa
vinha assim durante muito tempo, quando, de repente sentiu-se completamente
curado. Familiares estranharam e alguém sugeriu levá-lo a sessão da Federação Espírita,
de Niterói que naquela época, era dirigida por José de Souza. Tinha Zélio
precisamente 17 anos de idade.
E naquela mesma noite do dia 15 de
novembro de 1908, Zélio compareceu e foi chamado para sentar-se à mesa. Logo
após a abertura dos trabalhos, aconteceu uma súbita e surpreendente
manifestação de espíritos que se identificavam como índios ou caboclos (na
Umbanda o termo caboclo é genérico: serve para qualificar todo e qualquer
espírito que se apresente na roupagem. fluídica de um índio) e de pretos-velhos
escravos (que foram, é claro. O diretor da sessão achou aquilo tudo um absurdo
e advertiu-os com certa aspereza para se retirarem. Estava caracterizado o
racismo espíritico desde aquele instante até hoje..
Naquele instante dos
acontecimentos, o jovem Zélio sentiu-se tomado e através dele um espírito
falou: “porque repeliam a presença dos citados espíritos, se nem sequer se
dignaram a ouvir suas mensagens?” Seria por causa de suas origens sociais e da
cor? A essa admoestação da Entidade que estava com o médium Zélio, deu-se uma grande
confusão todos querendo se explicar debaixo de acalorados debates doutrinários,
porém, a Entidade revoltada mantinha-se firme em seus pontos de vista. Nisso,
um vidente pediu que a Entidade se identificasse, já que fora notado que ela
irradiava uma luz positiva.
Ainda mediunizado o médium Zélio
respondeu - ”se querem um nome, que seja este - ”sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas porque,
para mim, não haverá caminhos fechados”. E ainda, usando o médium, anunciou o
tipo de Missão que trazia do astral fixar as bases de um Culto, no qual todos
os espíritos de indica e pretos-velhos poderiam executar as determinações do
plano espiritual, e que no dia seguinte (precisamente no dia 16 de novernbro de
1908) desceria na residência do citado médium, as 20 horas, e fundaria um
templo onde haveria igualdade para todas encarnados e desencarnados.
E ainda foi guardada a seguinte
frase, que a entidade pronunciou no final: “levarei daqui uma semente e vou
planta-lá nas Neves onde ela se transformará em árvore frondosa” (ainda se
comenta até hoje se o termo Neves que empregou, o foi em sentido figurado, ou
se era mesmo no bairro em que o jovem e família moravam).
Nesse dia marcado, na residência
de Zélio de Moraes, a entidade desceu. Lá estavam muitos dos dirigentes daquela
Federação e outras pessoas interessadas que vieram, a saber, do acontecimento.
Inúmeras pessoas doentes ou disturbadas tomaram passes e muitas se disseram
curadas. No final dessa reunião o Caboclos das Sete Encruzilhadas ditou certas
normas para a seqüência dos trabalhos, inclusive: — atendimento absolutamente
gratuito; roupagem branca simples, sem atabaques,etc..
A esse novo tipo de Culto que se
formava nessa noite, a Entidade deu o nome de UMBANDA, que seria “a
manifestação do espírito para a caridade”. Posteriormente reafirmou a Leal de
Souza que “Umbanda era uma linha de demanda para a caridade”. Também nesse dia
16 foi fundado uma tenda com o nome de Tenda Nossa Senhora da Piedade, porque,
segundo as palavras densa Entidade: —”Assim como Maria acolhe em seus braços o
filho, a Tenda acolheria os que a ela recorressem, nas horas de aflição”
Segundo testemunhas idôneas, ainda
nessa mesma noite, baixou um preto-velho auxiliar, de nome Pai Antônio,
um portento de sabedoria e de força espiritual.
Dai em diante as sessões seguiram
nas normas estabelecidas, apenas com algumas praxes doutrinarias do Espiritismo
de Kardec, por força da época e das circunstâncias, as quais foram, depois,
sendo adaptadas à realidade da Umbanda. Assim, em 1913, o médium Zélio de
Moraes recebeu mais um reforço excepcional com a presença de uma Entidade que
se fez chamar de Orixá
Malé, um Caboclo, que tinha a ordem e os direitos de
Trabalho para a cura dos obsedados e para os desmanchos de Magia negra.
Transcorridos os anos, entre 1917
e 18, o Caboclo das
Sete Encruzilhadas recebeu ordens e assumiu o comando para a
fundação de mais Sete
Tendas, que seriam uma espécie de Núcleos Centrais, de onde
se propagaria a Umbanda para todos os lados.
Oportunamente, numa sessão de
desenvolvimento e estudos, o Caboclo das Sete Encruzilhadas escolheu sete
médiuns para fundarem os novos Templos, que assim ficaram constituídos:
Tenda Nossa Senhora da Guia, com
Durval de Souza, que veio a se fixar na Rua Camerino, 59, Centro, Rio.
Tenda Nossa Senhora da Conceição, com Leal de
Souza, da qual não conseguimos o endereço antigo e certo.
Tenda Santa Bárbara, com João Aguiar, que não
conseguimos o artigo endereço.
Tenda São Pedro, com José Meireles, que veio a se
fixar num sobrado da Praça 15 de Novembro.
Tenda de Oxalá, com Paulo Lavois, que velo a se fixar
na atual Av. Presidente Vargas, 2.567, Rio.
Tenda São Jorge, com João Severino Ramos, que
veio a se fixar na Rua Dom Gerardo no 45, Rio.
Bom queridos irmãos espero ter esclarecido um pouco o
significado de nossa querida UMBANDA, aguardo as sugestões para que possamos
quem sabe enriquecer mais esse tão nobre e vasto assunto.
Fiquem em PAZ !
Referências:
1 - RAMATIS, A Missão da Umbanda. Limeira
SP: Editora do Conhecimento, 2006.
2 - SILVA,W. W. da Matta e. Lições de
Umbanda e (Quimbanda) na Palavra de um Preto-Velho. 6ª, rev . e ampl. Rio de
Janeiro, Freitas Bastos,1995
Umbanda de Todos Nós. São Paulo 12ª ed. Ícone,
2007.
2 comentários:
Dudu, gostei muito da postagem!
Sei que para que um médium encorpore uma entidade é necessário muito estudo, discernimento e muita proteção espiritual em volta. Como Zélio de Moraes conseguiu encorporar o Caboclo Curuguçu sem ser obsediado?!
Um dos pontos que gostaria de entender mais são os nomes e significados da Umbanda (de nomes como Ogum, Exu, Oxalá a termos variados).
É tanta coisa que é muito difícil - quase impossível - reunir em um post!
Muito obrigado pelos esclarecimentos! Seu blog é muito importante e altamente recomendável pela riqueza de detalhes e a imparcialidade e neutralidade!!!
Forte abraço!
Na verdade a Nossa UMBANDA é linda. Quando penso que tive tanto preconceito sobre o assunto sem ao menos procurar saber o que realmente significava! O pq foi criada e como existe coerência em cada ensinamento, do próprio fundamento, na atuação dos Orixás, nas forças da natureza, os quatro elementos... Nossa! viver e estudar UMBANDA é maravilhoso. Cada dia mais me encanto um pouco. A minha própria dificuldade em me posicionar, em tentar melhorar como ser humano me faz acreditar ainda mais na existência de um mundo de informações que ainda precisamos dominar. A UMBANDA em minha vida foi o que determinou o conhecimento do meu caráter e com simplicidade me fez acreditar na fé e que Meus Companheiros Espirituais levaram muito tempo (com paciência) para chegar até mim e fazer do AMOR minha bandeira. Mesmo que eu ainda erre, que eu seja uma tonta, que sinta ira, que ainda perca um pouco da fé, que me atrapalhe em minha decisões, julgamentos, convicções e desejos, Ainda assim me reconheço outro ser: mais capaz, mais feliz, mais paciente e crédulo.
Pai, que eu consiga fazer de minha caminhada algo bom. E agora deixo aqui meu profundo agradecimento a Esses Senhores da Natureza que trouxe um colorido maravilhoso em minha vida, aos Amigos, Pretos-Velhos, Caboclos, Crianças e a todas as energias que tanto contribuem e que cada um com sua marca somaram ao muito pouco do que hoje sou, não por Eles, mas pela minha própria pequenez em ainda ser um ser endurecido e me limitar no aprendizado. Como ainda me falta, querido Deus!!! Mas estou me esforçando. SARAVÁ!
Muito boa publicação Edu!
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