Vocábulo alma se emprega para exprimir coisas muito diferentes. Uns chamam alma ao princípio da vida e, nesta acepção, se pode com acerto dizer,figuradamente, que a alma é uma centelha anímica emanada do grande Todo. Estas últimas palavras indicam a fonte universal do principio vital de que cada ser absorve uma porção e que, após a morte, volta à massa donde saiu. Essa idéia de nenhum modo exclui a de um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade. A esse ser, igualmente, se dá o nome de alma e nesta acepção é que se pode dizer que a alma é um Espírito encarnado.
Dando da alma definições diversas, os Espíritos falaram de acordo com o modo por que aplicavam a palavra e com as idéias terrenas de que ainda estavam mais ou menos imbuídos. Isto resulta da deficiência da linguagem humana, que não dispõe de uma palavra para cada idéia, donde uma imensidade de equívocos e discussões. Eis por que os Espíritos superiores nos dizem que primeiro nos entendamos acerca das palavras.
ALMA & ESPÍRITO
A fim de apreendermos adequadamente o sentido que se dá à palavra ‘alma’ quando do estudo das obras da codificação Kardequiana, vejamos o que nos foi informado por Kardec a esse respeito, pois os próprios Espíritos lhe disseram respondendo à pergunta 138 em “O Livro dos Espíritos”:
· Perg.: Que pensar daqueles que consideram a alma como o princípio da vida material?
· Resp.: É uma questão de palavras que não nos diz respeito. Começai por vos entenderdes a vós mesmos.
Também se deve notar que Kardec, no item 2 da Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita contida em “O Livro dos Espíritos”, escreve o seguinte: “Há outra palavra sobre a qual devemos igualmente nos entender, por constituir em si um dos fechos de abóbada (*), isto é, a sustentação de toda a doutrina moral, e que se tornou objeto de muitas controvérsias por falta de um significado que a defina com precisão determinada. É a palavra alma.”.
No entanto, em conformidade com o que se lê nas respostas às perguntas 134; 134a e 134b, é comum nos centros espíritas ouvir-se os confrades definirem a alma como sendo ‘um Espírito encarnado’ sem maiores explicações e sem levar em conta que, como lembrou Kardec: “filosoficamente, porém, é essencial estabelecer-se a diferença” (O Principiante Espírita – item 14, que segue, na íntegra): “14. A união da alma, do perispírito e do corpo_material constitui o homem; a alma e o perispírito sem o corpo constituem o ser chamado espírito”.
· A alma é assim um ser simples,
· o Espírito um ser duplo,
· e o homem um ser triplo.
“Seria mais justo reservar a palavra alma para designar o princípio_inteligente, e a palavra espírito para o ser semimaterial formado deste princípio e do corpo_fluídico; porém, como não se pode conceber o princípio inteligente isolado de toda a matéria, nem o perispírito sem ser animado pelo princípio inteligente, as palavras alma e espírito são, no uso, indiferentemente tomadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, assim como se diz que uma cidade é povoada por tantas almas, uma vila composta de tantas casas; filosoficamente, porém, é essencial estabelecer-se a diferença”.
Já no comentário que tece com referência à resposta dada pelos Espíritos na pergunta 139 em “O Livro dos Espíritos”, Kardec comenta:
“A palavra alma é empregada para exprimir coisas muito diferentes. Uns chamam alma o princípio da vida, e com esse entendimento é exato dizer, em sentido figurado, que a alma é “uma centelha anímica emanada do grande Todo”. Essas últimas palavras indicam a fonte universal do princípio vital do qual cada ser absorve uma porção que, depois da morte, retorna à massa. Essa idéia não exclui a de um ser moral distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade. É esse ser que se chama, igualmente, alma, e é nesse sentido que se pode dizer que a alma é um Espírito encarnado. Ao dar à almadefinições diferentes, os Espíritos falaram conforme a idéia que faziam da palavra de acordo com as idéias terrestres de que ainda estavam mais ou menos imbuídos. Isso decorre da insuficiência da linguagem humana, que não tem uma palavra para cada idéia, gerando uma infinidade de enganos e discussões. Eis por que os Espíritos superiores nos dizem que nos entendamos primeiro acerca das palavras”.
Léon Denis observa: “Chamamos Espírito à alma revestida do seu corpo fluídico. A alma é o centro de vida do perispírito, como este é o centro de vida do organismo físico. Ela que sente, pensa e quer; o corpo físico constitui, com o corpo fluídico, o duplo organismo por cujo intermédio ela atua no mundo da matéria”. (Cristianismo e Espiritismo – FEB 10ª edição)
Resumindo:
Alma : Princípio inteligente no qual reside o pensamento, a vontade e o senso moral. Foco da consciência.
Perispírito: Invólucro fluídico permanente, leve e imponderável, que acompanha a alma em sua evolução infinita, e com ela se melhora e purifica. Serve de laço e intermediário entre o espírito e o corpo.
Corpo: Envoltório material temporário, que põe o espírito em relação com o mundo exterior e que é abandonado na morte, como o vestuário usado.
Espírito: A alma desprendida do corpo material e revestida do seu invólucro sutil. Ser fluídico, de forma humana, liberto das necessidades terrestres, invisível e impalpável em seu estado normal. (Espírito = Alma + Perispírito)
Homem: Ser complexo onde se combinam três elementos para formar uma unidade viva. (Homem = Alma + Perispírito + Corpo)
(*) fechos de abóbada - pedra angular e principal de uma abóbada ou arco, na qual se sustenta toda a estrutura e as cargas externas. Neste caso: a questão primordial, a mais importante.
Bibliografia:
Kardec, Allan - “O Livro dos Espíritos”; “O que é o Espiritismo”; “O Principiante Espírita”.
Denis, Léon - “Cristianismo e Espiritismo”; “Depois da Morte”.
Zimmermann, Zalmino - “Perispírito” 2ª Edição Revista e Ampliada.
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